quarta-feira, 28 de julho de 2010

Acasos

07h30min... Café da manhã

08h00min... Trânsito

09h20min... Reunião com o fornecedor

10h15min... Examinar planilha de gastos

11h30min... Almoço

13h30min... Banco

15h00min... Conferir o estoque

16h10min... Verificar os prazos de entrega

17h00... Ligar para o contador

18h00min... Fechar o caixa

18h45min... Trânsito

20h00min... Jantar

Esse teria sido seu dia se não tivesse morrido baleado em um assalto as 08h15min.
De todas as coisas plausíveis de entendimento, de todas as opções, de tudo que podia acontecer. Essa talvez seja a que ele menos cogitou... Mas também, quem cogitaria?



By_Flávia Tavares_


P.S. Diego não foi bem essa a sua sugestão mas ainda to amadurecendo a ideia :P

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Como dizia o poeta

Como dizia o poeta
Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não
Não há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão
Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada, não

Vinícius de Moraes

sábado, 24 de julho de 2010

Sangue Quente

Revirou-se na cama mais uma vez. Não conseguia dormir e o silencio era quebrado somente por duas coisas distintas, que à noite pareciam entrelaçadas. Racionalmente ela não conseguia ver o vinculo entre os ponteiros do seu relógio e o ruído do ar que inflava seus pulmões, porém havia. Não compreendia, mas podia sentir... Sentia-se cansada mentalmente e cada segundo parecia forçar seu coração a mais uma batida. Por um momento desejou estar morta, sem respiração, sem relógio, enfim, em silencio. Da cama não conseguia enxergar as horas, mas sabia que se passavam das três da manhã. Não dormia, contava os segundos.
Levantou da cama em um movimento brusco, se livrou do lençol que grudava seu corpo devido à noite abafada de verão. Seus pés buscaram instintivamente o alivio da cerâmica gelada e ela caminhou até a janela. Sentia-se fraca, exausta e insatisfeita. Queria ter a força de um soldado que lutou até o fim. Mas não, ela era fraca, ela implorava pelo tiro de misericórdia.
Foi até o banheiro. Seu reflexo lhe mostrava que estava acabada, porém algo nela ainda resistia... Algo ainda a impedia de por um fim em tudo. Lavou o rosto e a água fria lhe causou um tremor repentino... Olhou-se mais uma vez no espelho... Tinha que conseguir fazer ao menos isso. Uma coragem mortal inflamou seu peito enquanto a adrenalina corria em suas veias. Seu corpo possuía, ainda, algum instinto de sobrevivência e era isso que ela queria vencer.
Abriu a gaveta do banheiro e mesmo a meia luz pode distinguir o brilho da navalha. Voltou para o quarto. Sua cama estava ali do mesmo modo, porém ela se dirigiu ao relógio e lhe tirou as pilhas. Novamente encarou a cama quente e a cerâmica do chão não lhe pareceu mais apropriada, todavia foi a escolhida por lhe parecer infinitamente mais acolhedora.
Eram para sempre 3:32 da manhã. O relógio já não se movia, não havia mais os segundos que impulsionavam as batidas. Não havia mais o ruído da respiração. Silencio total. Silencio mórbido. No chão, o cadáver de uma moça. Suas pupilas abertas denunciavam que ela morreu encarando a cama. Preferiu o chão para fugir do calor e lá se deitou enquanto fez dois cortes longitudinais em cada pulso. Morreu rodeada por sangue. Por seu sangue. Seu sangue quente.

By_Flávia Tavares_